Cabana

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No meio do mundo, rodeada por nada. Escuridão tremenda. Nada se sabe. Dentro da cabana vivem três aberrações.
A verdade relativa. Muitos pesos, muitas medidas. O mais velho, aleijado e míope, tinha a idade sobre as costas, a testa franzida, os ombros caídos. Vestido de branco, impecável, fala correta, corrigindo os outros, implicante, adora a ordem e os discursos. A verdade não importa.
Descontrolado, escandaloso. Sempre de vermelho… Nariz vermelho. Um vulcão às vezes, uma calmaria em outras.
Apesar de sentir dores terríveis é um escravo do mais velho e só apanha do segundo. Entre os três, o mais sociável, o que mantém os três juntos desde o berço. Forte, faminto e lento.
Trigêmeos.
Sempre prejudicando um ao outro. Brigam o dia inteiro, mas não vivem sem o outro. Dizem que a probabilidade de isso acontecer é a mesma que a de um jogador de golfe acertar a bolinha num buraco na lua ou a de uma fita cassete sair da fábrica, com a 9a Sinfonia de Beethoven gravada.
A cabana é grande, vazia, mal iluminada, suja. A não ser pela sala onde estão todos os pertences e os três irmãos. Nesse local, existem tantas coisas…
O trio tem sempre uma resposta para tudo. Eles têm a solução para o amor incondicional, a existência de Deus, a fome no mundo, a meta da humanidade, a paz universal, a pergunta shakespeareana e até para quem veio primeiro.
Eles discordam tanto que, mesmo olhando, através de uma mesma janela, poderia sair discussão sobre o que viam. Mesmo que pela janela só se pudesse ver uma única e solitária árvore. Eles estão sempre brigando. Brigando feio. Eles estão sempre brigando. Brigando feio.

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